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1. – INTRODUÇÃO | Verbatim 2. – O VELÓRIO DO TÓ GULA | A. Raposo 3. – JOGOS DE PODER | Detective
Jeremias 4. – O INTERROGATÓRIO | Arnes 5. – MAS, AFINAL, QUEM MATOU O TÓ GULA? | Inspector Boavida 6. – NÃO ATA NEM DESATA E COMPLICA-SE | Verbatim 7. – E O MISTÉRIO ADENSA-SE… | Rigor Mortis 7,5. – SETE E MEIO | A. Raposo 8. – A VIDA CONTINUA | Búfalos Associados 9. – FINAL | Zé |
EPISÓDIO 7,5. SETE E MEIO A. Raposo Nota introdutória:
O Malacueco,
nome de guerra do Quim Costa, foi encontrado de perna cruzada, a ler a
“Bola”, morrão firme na pirisca, congelado, teso que
nem um carapau, de olho aberto a fitar, vidrado, o jornal desportivo, como se
tivesse absorto na leitura. Logo ele que não lia as gordas nem as magras nem
as do tamanho de um comboio. Era analfabeto! Isto se
passava dentro do frigorífico do Mercado da Ribeira, entre duas caixas de
sardinha e três de carapau manteiga. Foi a “Maluca”
de nome Isaura, mulher do Quim, que o encontrou quando ia arrumar o resto da
venda no frio, ao fim da manhã. Ainda o
abanou, chamou por ele e por fim deu-lhe dois “borrachos” nas ventas, mas o
único sinal de vida foi o morrão apagado do cigarro que tombou no chão
gelado, aos pés do morto. A Isaura
começou a berrar tão forte que se ouvia no piso superior da praça. À pressa
correram em simultâneo o “bacalhau” batizado Toino Coxo, e a “mamuda”, de
nome Umbelina, ele vendedor de bivalves ela empregada da Tina das hortaliças,
conhecida por Albertina do Esticadinho. Na pressa de
entrarem na porta estreita do frigorífico, para atenderem aos berros da
Isaura, ficaram entalados na entrada, os dois. O “bacalhau”
era magrinho, e ficou entre as enormes mamas da “mamuda”. E assim foi, nem
para a frente nem para trás. O “bacalhau”
ria-se com todos os seus dentes podres da parca coleção. A “mamuda” não
achava piada pois preferia ter sido atropelada pelo congelado morto, o
Malacueco que era moço peitudo e jogava (quando estava vivo) rugby no Carcavelinhos. Por ele a “mamuda” já não poderia ser
entalada, obviamente. Alguém, do
lado de fora, começou a puxar pelo “bacalhau” que não colaborava porque estava
no quentinho da “mamuda”. O que se
passara? Alguém metera o Malacueco no fresco e depois, não contente com isso,
pô-lo a ler a “Bola”. Ele que nem as letras grandes sabia soletrar… Dois homens
musculados retiraram o Malacueco do fresco. Como estava congelado, vinha de
perna cruzada, com o jornal desportivo (bisemanal,
na altura) nas mãos, pirisca na beiça com um sorriso
amargo que a morte congelara. O Inspector Anjinho que já tinha um morto para deslindar
ficou com dois e uma enorme dor de cabeça. Dizia baixinho de forma a não ser
ouvido pelos circunstantes: – Estes cabrões andam a dar-me cabo dos cornos logo agora que me
faltam dois meses para a reforma e eu ainda vou arranjar um trinta e um que
me lixa o futuro, caraças. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 30 de Novembro de 2025 O CASO (sério) DA
RUA DAS TRINAS, Edições Fora da Lei, Ano de 2018 |
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© DANIEL FALCÃO |
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