| Publicação: “Flama” Data: 2 de Maio de 1958 II Torneio Nacional de Problemística
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  Policial 
 | II
  TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PROBLEMA Nº 7 LÚCIFER INTERVEIO NA HISTÓRIA Autor: Sete de Espadas O
  cadáver do banqueiro, crivado de golpes, estava deitado na alcatifa, como que
  em posição de sentido. Aos pés, em face deles, uma poltrona, e, ao lado
  direito, uma mesinha. Sobre ela um montículo de cinza de tabaco, um magnífico
  charuto meio consumido, e a respectiva ponta. No chão, a cinta do charuto
  onde se lia a marca «DOUNIA». Nem um mínimo rasto por onde inferir-se a
  identidade do criminoso. Conclusão:
  – Um crime perfeito! Móbil: –
  Vingança! Actuação de um sádico.   O
  assassino, após o crime, e saciada a vingança que inúmeras feridas
  testemunhavam, instalara-se ante o cadáver sangrento, trincara a ponta dum
  charuto e fumara-o com volúpia que a contemplação da vítima mais avivava. (O facto
  de não existir cinzeiro explica-se pela interdição médica que impedia o
  banqueiro de fumar). Os três
  suspeitos estavam na minha frente: – Bernard, Flamínio e Lerroux. Todos
  odiavam o banqueiro. Todos se odiavam entre si. Todos fumavam charuto. – Ouça,
  Flamínio – comecei, seguindo um raciocínio súbito e, aparentemente,
  inoportuno. – Você que era amigo de Bernard, porque se zangou com ele? Flamínio
  sorriu: – Já lá vão 8 dias e como sabe sou um desmemoriado. – Essa
  tem graça! – Exclamei. – Ó Bernard, então você não se ri?... –
  Desculpe – respondeu com dicção difícil. – Ando há quatro dias em tratamento
  no Dr. Lacroix que me extraiu os incisivos. Enquanto não colocar a nova
  dentadura mal posso falar e muito menos rir-me… Olhei
  então para Lerroux que, sempre nervoso, esbugalhava para mim os seus olhos
  pardos. Era o que mais rancor votava ao banqueiro. Perdia a serenidade ao
  vê-lo e afirmava que o havia de matar… … Mas
  seguindo o meu fio de raciocínio, voltei-me de novo para o Flamínio. – Homem,
  você de há uns tempos para cá anda endiabrado. Há 8 dias incompatibilizou-se
  com o Bernard; dois dias depois saía do gabinete do banqueiro rugindo
  ameaças; e, ontem à noite agrediu à biqueirada o guarda-nocturno da sua área… Flamínio
  respondeu enfadado: – E daqui a pouco agrido-o a você! Olhei-o
  com curiosidade: – distinto, feições finas e cruéis, merecia bem o apodo de
  «Mefistófoles Italiano”… Tinha habilidades fantásticas de faquir… Ao lado
  dele, Bernard, o capitalista excêntrico, aparentava calma no rosto amarelo de
  intoxicado. Fumava como uma chaminé. Tinha mesmo encomendado, à melhor
  fábrica da especialidade, uns excelentes charutos para seu uso exclusivo que
  recatara até dos próprios amigos. Dizia-se que mandara gravar nas cintas o
  nome duma grácil rapariga que Lerroux havia trazido da Livónia, e que o
  capitalista tivera artes de seduzir com assíduas visitas ao casal. Com ela
  vivia há dois anos – e o ódio de Lerroux ao capitalista Bernard era labareda
  infernal…        Subitamente,
  proferi com voz enérgica: – Lerroux, esse amor insensato perdeu-o! Lerroux
  exclamou com paixão: – Minha adorável Donnia! – O seu corpo teve um
  estremecimento e com uma grande cópia de gestos que fizeram lembrar uma
  jarra, exteriorizava o seu ódio ao traiçoeiro Bernard, quando me ergui num
  repente: – Você disse Donnia?... – Sim –
  respondeu Lerroux. – Ela chamava-se Dounetcka, mas, na intimidade, tratava-se
  por Donnia. Tirei do
  bolso a cinta do charuto e mostrei-a a Bernard: – Então o que eu supunha ser
  a marca deste “paivante” é o nome da sua beldade?... – Crime
  e castigo! – Berrou Lerroux numa exaltação enorme. Bernard,
  muito pálido, apenas pôde balbuciar: – Esta só pelo Diabo!... – Tem
  razão – acrescentei. – Lúcifer interveio na história… E ainda bem, porque me
  fez descobrir o assassino. Pergunta-se: Quem foi
  o assassino? Apresente
  provas. | |||||||||||||||||||||||||
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  DANIEL FALCÃO |  | |||||||||||||||||||||||||