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 22 de Março de 1957. É
  publicado, na revista “Flama”, o 1º número da Secção “O Gosto do Mistério…”,
  orientada por Jartur – curiosamente, por lapso
  tipográfico, identificado como “Mr. Dartur”.  Domingos Cabral, com 15 anos completados
  recentemente, responde ao problema naquela inserido – “O Táxi Misterioso”,
  transformando, assim, em “casamento” o “namoro” que à modalidade vinha
  fazendo há algum tempo, através do contacto com a Secção do “Mundo de
  Aventuras”, de que era leitor há alguns anos.  Sabendo, por isso, que era habitual o uso de
  pseudónimo, e perante a dificuldade que sentiu na escolha, rápida, de um,
  acabou, por associação, por perfilhar o “Inspector
  Aranha”. É que, naquele problema, o investigador (Marcos Dias), concebido
  pelo Autor (Jartur), após resolver o caso,
  dirige-se para o “Clube do Aranhiço”. Escolha pouco feliz, de facto, já que
  ninguém inicia a construção de um edifício pelo telhado e o principiante
  começava, nada modestamente, por se designar “Inspector”…
  De qualquer forma, iniciou-se, assim, um longo caminho…  In Mundo dos
  Passatempos, 1 de Setembro de 2007   Correio Policial, 9 de Abril de 2021  | 
  
   
 PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA
  POLICIÁRIA PORTUGUESA por DOMINGOS CABRAL (do livro com o mesmo título, a
  editar) 30 CICLO REINALDO FERREIRA “REPÓRTER
  X” CONCURSO DOS CONTOS
  MISTERIOSOS Nº 28 O ASSASSINO DE CÊRA Foi logo após a guerra. O serviço ferroviário em França mantinha a
  irregularidade de horários daqueles trágicos dias. Eu ia para Paris, em serviço de reportagem. O
  pseudo rápido que nos conduzia e que levara oito horas de Hendaya
  a Bordeus, em Bordeus ficára, fungando pela dilatada narina da chaminé, como um
  animal esfalfado. Não havia outro remédio! Era preciso passar a
  noite em Bordeus e esperar pelo dia seguinte. Eu e os meus companheiros de viajem – D. Pépe Lamár, empresário espanhol, e sua filha, a nervosa e
  palradora senhorita Concepcion – dificilmente
  encontrámos guarida nos hotéis de Bourdeux. Pagámos
  a peso de ouro umas mansardas perto da «Independance.» Após o jantar pavoneamo-nos um pouco pela cidade,
  que surgia, vistosa e provinciana, do pesadelo da guerra. E andando sem rumo
  topámos com a caravana acampada de uma feira, em preparativos para a
  inauguração no próximo domingo. Distraiu-nos a actividade
  dos saltimbancos, engrinaldando as fachadas ou montando o puzzle das barracas, apenas iluminadas
  pela luz fumarenta do acetilene. Os hércules, os clowns, os fenómenos, as
  dançarinas árabes – desprovidas das lantejouladas tarlatanas do espectáculo, cheiravam a miséria e a desgraça. Mas D. Pépe arregalou
  logo os olhos bogalhudos: – Já uma vez – disse-me ele - ganhei uma pequena
  fortuna com um prestidigitador que descobri numa troupe de vagabundos… Começamos então a passar revista às barracas
  forradas com berrantes cartazes. Houve duas que nos chamaram particularmente
  a atenção:0 uma, acanhada e modesta, estava encabeçada pelo letreiro: Dumec, filho, o rei dos transformistas…”; na outra, que
  era a mais ampla de todas, lia-se a seguinte taboleta:
  «Museu dos grandes crimes. – A mais perfeita colecção
  de bonecos de cêra. – Propriedade de Dumec, pai». A señorita Concepcion exigiu que começássemos a visita pelo Museu de
  “los muñecos”. Parecia uma petiza, batendo as palmas
  e atroando os ares com a sua voz ruidosa. O pai tentou a recusa: – Como queres tu entrar – se a barraca ainda não
  funciona? Não vês que está o guichet
  fechado?  Mas ela insistiu. Para que servia ter um papá emprezário senão para conhecer antecipadamente todos os espectáculos? D. Pépe cedeu. Havia
  uma cortina de desbotado veludo vermelho… Afastou-a com a bengala; entrou: e
  nós seguimo-lo.  Estávamos num hall. Do hall irradiavam três
  corredores: um, para a direita; outro, para a
  esquerda; e o terceiro, para o fundo. Este último,
  bifurcava-se, no terminus,
  em novos corredores, que se prolongavam para alem da
  nossa vista. Toda a barraca estava marginada de vitrines. Dentro
  das vitrines
  havia grupos  Íamos a avançar, mas a presença de um cavalheiro
  calvo e barbudo lembrou a D. Pépe que seria mais
  prudente pedir autorização para a visita.  – O senhor pertence ao museu? – indagou. – Não… Sou apenas agente de polícia encarregado
  de inspeccionar as barracas antes da inauguração da
  feira. O proprietário, sr. Dumec,
  está com o filho - o transformista da barraca ao lado - e com dois operários
  acabando a montagem de umas vitrines. Aguardo-os aqui, para começar o meu trabalho… Enquanto o solene agente conversava com D. Pépe, a señorita Concepcion, impaciente por conhecer os segredos do Museu,
  avançara pelo corredor central e metendo-se por uma das bifurcações, saíra do
  alcance do nosso olhar. Tínhamos suspendido a nossa palestra quando, no
  silêncio da barraca, guinchou um grito de morte. E o agente, dignando
  sorrir-se, quis acalmar-nos, dizendo: – Devem ser as catatuas adestradas do circo… – Qual catatua «ni que cuentos!
  – exclamou D. Pépe. É a voz da minha filha… Correu pelo corredor central e eu que lhe ia na
  peugada. A señorita Concepcion veio ao nosso encontro, pálida e de olhos
  esgazeados: 
 E ela explicou:  – Lá ao fundo há um grupo horrível… Um homem
  vestido de negro, empunhando uma navalha; caída a seus pés está a vítima,
  golfando sangue… É uma velhota - e no seu rosto mistura-se o horror com as ancias da agonia… D. Pépe sorriu-se e
  lembrou-lhe: – Eu bem te dizia, Concepcion.
  Os, teus nervos não foram feitos para estes espectáculos.
  Qualquer boneco de cêra te amedronta… – Deixe-me acabar, papá – e já vai ver que o meu
  susto é justificado… Quando eu me aproximei do grupo, o «homem de negro»
  ocultou o rosto. * * * D. Pépe e eu
  entreolhamo-nos – e não acreditamos na veracidade do episodio.
  Mas pelo sim, pelo não, acompanhamos Concepcion ao
  nicho onde ela descobrira o sinistro grupo. E mal ele nos surgiu, na curva do
  corredor, D. Pepe troçou da filha: – Pobre louquinha… Vês que são bonecos de cêra? Mas não concluiu a frase. Pelo soalho
  alastrava-se uma poça de sangue.      * * * 
 Abeiramo-nos do corpo da velha, que sangrava
  ainda… Não pudemos duvidar… Era um cadáver… Mas ao seu lado, imóvel, firme,
  empunhando a navalha - continuava o “homem de negro”… Uma convulsão, quasi epiléptica, atacara D. Pépe. – Bandido!!! Assassino!!! Matás-te a pobre
  velha e queres fingir ainda que és boneco de cêra? E numa fúria ergueu a bengala e vibrou-lhe uma
  pancada que seria capaz de abater um touro… E a cabeça do “homem negro”,
  decepada do corpo, rolou pelo soalho… O «criminoso» era, de facto, um boneco de cêra? * * * Então sim… O mesmo terror, injectado
  pela incompreensão daquele macabro mistério, nos levou, em covarde correria,
  até ao hall,
  onde o agente da polícia continuava a fazer “pendant”
  aos monstros da exposição. A primeira pergunta que lhe dirigimos, foi se
  alguém saíra, entretanto do museu: – Não arredei pé daqui – respondeu agreste: – e
  não vi sair ninguem… – Nesse caso o assassino ainda cá está dentro! Trilou um apito… e segundos depois acudiam, de
  vários pontos do museu, Mr. Dumec,
  pai - um velho, pálido e calvo… e  Mr. Dumec, filho,  um
  jovem forte e corado; e os dois operários. Mr. Dumec pai vestia um fato de bombozine
  azul; o filho, um fraque amarelo; um dos companheiros vinha em “jat” branco; o outro, estava já
  arranjado para sair – com um traje vulgar, de tecido castanho… Explicou-se-lhes o que sucedera. Vieram varios agentes que ficaram de guarda ao museu. Voltamos
  ao local do crime… E ao verem o cadáver da velha, os dois Dumec
  ajoelharam-se e bradaram ruidosamente a sua dôr… A vítima era a esposa do sr.
  Dumec pai, director do
  museu – madrasta do sr.
  Dumec, filho, o transformista do lado. * * * Passada uma minuciosa busca ao museu, agitados os
  bonecos – não fosse o caso de algum deles ser de carne em vez de cêra – chegou-se á conclusão que o assassino de Madame Dumec estava ainda dentro da barraca; e que portanto
  devia ser um daqueles quatro… Então o agente, puxando pela barbicha grisalha,
  tomou ares sherlockholmescos e perguntou à señorita Concepcion: – O assassino estava vestido de negro, não é verdade? – Sim… Completamente de negro… – Quanto tempo podia ter decorrido entre a sua
  descoberta e o meu alarme? – Alguns
  segundos apenas! – Pois bem… O assassino de Madame Dumec foi… Quem podia ter assassinado Madame Dumec? Releiam as linhas em itálico e encham o coupon. * * * NOTA: Foi mantida, na transcrição, a grafia da
  época (1927)      
 Fontes: Secção Correio
  Policial, 9 de Abril de 2021 | Domingos Cabral  Blogue Repórter de
  Ocasião, 28 de Fevereiro de 2025 | Luís Rodrigues  | 
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   © DANIEL FALCÃO  | 
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