Autor

Autor não identificado

 

Data

Abril de 1981

 

Secção

XYZ-Policiário [7]

 

Competição

I Campeonato Nacional de Problemas Policiários

Problema nº 4

Etapa de Évora

 

Publicação

XYZ-Magazine [11]

 

 

O CASO DO COMENDADOR MORTO

Autor não identificado

 

Naquela tarde pardacenta e triste, com as ruas cheias de folhas que o vem-to ia arrastando num lamento, em sua casa na periferia de Viseu, aparecera morto o Comendador Brochado.

Segundo o Delegado de Saúde a morte fora instantânea e dera-se entre as 14 e 30 e as 15 horas. Uma bala havia-lhe atravessado o coração. O cadáver fora descoberto por uma criada e encontrava-se dentro de um compartimento, que lhe servia de escritório, no 1º andar da casa.

O corpo, atravessado e a 1 metro da porta, tinha a seu lado uma pistola «WALTHER» de calibre 7,65 que não tinha impressões digitais, e mais ao lado, uma cápsula vazia que pertencia à bala que matara o Comendador.

No escritório fora também encontrada na gaveta de uma secretária, uma agenda tipo «Agenda do Lar», onde na página do dia anterior, o comendador escrevera a tinta vermelha – FUI UMA VEZ MAIS ROUBADO – e entre parentesis (10.000$).

Havia também várias cifras escritas em folhas anteriores.

Noutra gaveta, um pequeno cofre aberto, continha uma importância avultada em dinheiro e 18 moedas de ouro de 1/2 libra. Revistados todos os aposentos apenas foram encontradas 2 meias libras no quarto de miss Isabel, a «nurse» da filha do Comendador.

A porta do escritório abria para fora e a sua fechadura era do tipo normal, com trinco. O orifício para a chave tinha cerca de 13x 7,5 m/m, vendo-se bem através dele.

Trabalhavam em casa do Comendador 4 pessoas, cujos quartos eram no rés-do-chão e onde ficava também a cozinha. Chamadas, fizeram os seguintes depoimentos:

1º – ARNALDO MATEUS, motorista; disse encontrar-se na garagem desde as 13 e meia a lubrificar e lavar o carro, um «Mercedes», conforme instruções do sr. Comendador dadas de manhã. Nunca ouvira falar em roubos naquela casa a ninguém, como também não conhecia a pistola. Como a garagem ficava no fundo do jardim a uns bons 100 metros da casa, também não ouvira ruído que se parecesse a um tiro. Teve conhecimento da morte, quando mais tarde viera à cozinha para que a criada lhe desse um pacote de «OMO». Como não encontrara ninguém no rés-do-chão e ouvira barulho no 1º andar, subira e só então se inteirou do sucedido.

Ninguém confirma este alibi.

2º – ALICE CURADO, cozinheira e criada; estivera a arrumar a cozinha até às 14 e 20 (vira as horas) e a seguir dirigira-se ao seu quarto, como de costume, para descansar uns momentos. Seriam cerca de 15 e 30 (não vira as horas), aproximadamente, quando subiu ao 1º andar para proceder à sua limpeza. Ao passar junto à porta do escritório do patrão reparou que a chave da porta se encontrava no chão, tendo por curiosidade espreitado pelo buraco da fechadura, vendo então o Comendador estendido no chão. Abrira a porta que apenas se encontrava fechada pelo trinco e confirmara o que tinha visto pelo buraco da fechadura. Começou a gritar tendo logo a seguir chegado o sr. Alberto e miss Isabel. Não ouvira qualquer tiro (a não ser que tivesse sido disparado enquanto «passara pelas brasas») e jamais ouviu falar de roubo. Lembra-se de já ter visto a pistola no quarto do Comendador e viu miss Isabel sair com a filha do patrão, perto das 14 horas. Acrescentou, sem lhe ser perguntado, que miss Isabel e o sr. Comendador se entendiam muito bem…

Ninguém viria a confirmar estas declarações.

3º – ALBERTO BROCHADO, sobrinho e secretário do Comendador; como o seu tio o dispensara da parte da tarde daquele dia, logo que acabara de almoçar retirara-se para o seu quarto (talvez ninguém o tivesse notado), e aí se deixara adormecer ao som da música do seu transistor. Acordara e levantara-se às 15 e 15 (consultara o relógio), e saíra para o jardim onde, pouco depois, chegava também miss Isabel, vinda do exterior. Conversaram durante algum tempo e quando ouviu os gritos da criada, apressou-se a subir levando na sua peugada Isabel. Ao chegar ao escritório deparara com o patrão e tio deitado no chão e aparentemente morto. Não mexera em nada e telefonara para a polícia. Inquirido se conhecia a pistola, disse pertencer a seu tio e que fora ele a registá-la um ano antes, a pedido do Comendador.

Não ouvira qualquer tiro e também nada sabia de roubos.

Também ninguém confirma a totalidade deste depoimento.

4º – ISABEL FERREIRA, «nurse» da pequena Paula, filha do Comendador; trabalhava há 2 anos na casa, logo após a viuvez do Comendador, e nunca ouvira falar em roubos. Naquele dia havia saído às 14 horas com a sua pupila, e fora levá-la a casa de uma tia. Seguiram a pé a pedido da criança, e chegaram ao destino cerca de um quarto de hora depois. Ficara a conversar com a tia da criança um bom pedaço, e regressara também a pé. Demorara-se a ver as montras e quando chegara ao jardim da casa do Comendador, encontrara o sobrinho deste. Falaram sobre o tempo e pouco depois começaram a ouvir-se os gritos da criada, que a levou a subir ao 1º andar atrás do Alberto.

Acrescentou ser o sr. Comendador um bom patrão, e talvez nessa manhã trouxesse cara de aborrecido.

Ao ser-lhe perguntado se tinha em seu poder algumas moedas de 1/2 libra, negou. Entretanto, ao serem-lhe mostradas as duas que foram encontradas no seu quarto, admitiu que lhe haviam sido oferecidas pelo patrão, quando fizera anos.

Confirmou-se que saíra de casa da tia de Paula depois das 14 e 30 e que ficara de ir buscar a criança às 18 horas.

Posta de parte a hipótese de suicídio – a falta de impressões digitais na arma levam-nos a isso –, pergunta-se:

 

1º – NA SUA OPINIÃO, QUEM PODERIA TER ROUBADO E ASSASSINADO O COMENDADOR BROCHADO?

2º – EM QUE BASEIA AS SUAS DEDUÇÕES?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO