Autor

Marth

 

Data

13 de Fevereiro de 1988

 

Secção

Sábado Policiário [110]

 

Competição

Torneio A-Team

Problema nº 3

 

Publicação

Diário Popular

 

 

DETECTIVE AMADOR

Marth

 

Quando encontrei um amigo no hotel daquela cidadezinha convidei-o logo para ir ao cinema nessa mesma noite.

A meio do filme faltou a luz e a sessão teve de ser interrompida. Ao sairmos descobrimos que estava a nevar, pelo que regressámos directamente ao hotel. Este, afinal, também estava as escuras, como quase toda a cidade.

Despedimo-nos em frente à porta do meu quarto, o nº 11. Eu entrei, descalcei-me e estendi-me na cama enquanto ouvia os passos dele afastarem-se até ao seu quarto, o nº 13, ao fundo do corredor. Logo que o ouvi fechar a porta soou um tiro. Ainda procurava os meus sapatos quando ouvi uma porta abrir-se, passos a correr, uma janela a ser aberta, gratos: «Agarra que é ladrão! Agarra o assassino!». Quando saí para o corredor vi que era o quarto do meu amigo que estava aberto. Também aberta a janela que ao fundo do corredor dava para as traseiras. Junto à janela um vulto que pude reconhecer pela voz, pois continuava a gritar. Era o hóspede do quarto do meio, o nº 12, que vivia naquele hotel há vários anos. Da última vez que eu ali estivera ele ocupava o quarto nº 13. Mudara-se por ser supersticioso.

Aproximei-me. Disse-me que estava no quarto a ver televisão quando ouviu o tiro. Correu para fora do quarto e ainda viu um homem que, de cócoras sobre o parapeito da janela, se preparava para saltar para a rua. Como o homem olhou para trás antes de saltar ele viu-lhe o rosto: com um grande bigode, negro como os cabelos e os olhos, testa alta, nariz partido. Vestia um sobretudo escuro e muito comprido.

Olhei para a rua. Estávamos num 1º andar bastante alto e se o fugitivo escapara ileso tinha de ser um bom atleta. Precisamente nesse momento acenderam-se de novo os candeeiros da rua e pude confirmar que o fugitivo já nem a sombra se via e que não havia nenhuma falha no fino lençol branco que a neve formara no pavimento daquela ruela estreita. Ruela que desembocava, de ambos os lados na Rua da Estação. Mas desta nada se via a não a ser a parte superior da frontaria de um prédio que emergia por detrás do pequeno armazém, de um só piso, mestre em frente à janela.

Corri para o quarto do meu amigo. Encontrei-o estendido no chão ao lado da porta. Morto. Sobre a cama, as malas abertas e em desordem. Caída num canto, uma lanterna do bolso. Aproximei-me da janela, fechada, e espreitei através da persiana. Lã fora chovia.

Como não aparecia mais ninguém fomos nós chamar a polícia.

Naquela mesma noite foi apanhado na estação de caminho-de-ferro um homem cujo rosto correspondia exactamente à descrição feita pelo hóspede do nº 12. Em vez do sobretudo vestia um blusão negro. O «Zé das Naifas», como era conhecido, estivera a cumprir uma pena de prisão por assalto a mão armada. A sua libertação provocara muitos protestos e o semanário local enchera a primeira página da sua última edição com um artigo alarmista e uma fotografia do ex-presidiário.

Quando eu soube que ao ser apanhado ele tinha consigo uma arma que dizia ter encontrado na rua e que os peritos concluíram ser a arma do crime, fui à polícia oferecer os meus serviços de «detective amador».

Mostre que também você é um bom detective dizendo-nos:

1) Quem pensa que terá matado o meu amigo?

2) Como chegou a essa conclusão?

3) Como terá agido o assassino?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO