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Autor Data 1 de Setembro de 2025 Competição Torneio do Cinquentenário de
“Mistério… Policiário” Problema nº 9 Publicação Blogue Local do Crime |
ALMOÇOS GRÁTIS Detective Jeremias Caro
leitor, Gostaria
de partilhar consigo um desafio que me foi lançado um destes dias. Mas antes,
tenho de contar como me veio parar às mãos. Não
sou muito dada a marcar encontros com amigos de longa data e estou segura de
que pensam da mesma forma. Sei que estão presentes para o que for preciso e
eles sabem que podem contar comigo, incondicionalmente. Talvez por isso, os
planos de almoços, passeios, ou outras actividades,
foram sempre adiados e acabaram por ficar em águas de bacalhau. Agora,
depois do domingo passado, sou obrigada a reconhecer que afinal foi um dia espectacular que passámos juntos. Também não tive grande
alternativa. Nesse dia, pelas nove da manhã recebi uma mensagem a perguntar
onde estava e uma hora depois tive uma invasão na minha casa. Apareceram os
(poucos) velhos amigos munidos de uma saca de carvão, pão caseiro, vinho,
geleiras com peixe fresco, carne, queijo, enchidos e sei lá mais o quê. Sem
hipótese de resistir a este ataque inesperado, rendi-me e meti mãos à obra
para assegurar a parte que me coube: preparar o pátio, as mesas, as loiças, o
grelhador, enfim a chamada logística. E o melhor do dia não foram os
petiscos, mas a música e a conversa animada para relembrar as parvoíces de
uma altura em que todos nós víamos tudo de forma mais corajosa e
descontraída. Era
um tempo em que fazíamos das fraquezas, forças. Tantas coisas divertidas, que
já tinha esquecido, vieram à baila. Como daquela vez, em que eu estava
fartíssima de reclamar junto do posto dos correios, porque o telefone da
única cabina telefónica que servia o bairro estava partido há mais de um mês.
Ali, quase ninguém tinha telefone fixo e os telemóveis eram ficção
científica. Resolvi o problema ao enviar, anonimamente, um postal aos CTT
denunciando uma situação “altamente irregular e perturbadora da ordem
pública”: o telefone da cabina X estaria com uma falha técnica e permitia
fazer chamadas sem usar moedas, o que criava um verdadeiro caos de filas de
malta nova, principalmente estudantes de quartos alugados, que passavam horas
sem fim em chamadas interurbanas, quiçá até para estrangeiro, sem desembolsar
um único centavo. É claro que não tardou que aparecessem os técnicos para
substituir o telefone partido, que “supostamente” funcionava de graça. Tudo
historietas deste calibre, que muitas vezes só têm piada para quem as viveu
na pele, e que nos deixaram os maxilares doridos de tanto riso. Bom,
o que me traz agora aqui é o enigma que me foi deixado no fim do dia, pelo
grupo de amigos, acompanhado de uma nota onde se podia ler o seguinte: “Já
que gostas tanto de mistérios, descobre quem cometeu o crime, porquê e com o
quê. Ganharás almoço, inteiramente grátis, com tudo a que tens direito, num
restaurante à tua escolha.” UM
ÚNICO CULPADO, UMA
ÚNICA ARMA DO CRIME E
UM ÚNICO MOTIVO Num
almoço de hipotéticos amigos, para recordar velhos tempos, D.ª Etelvina,
apareceu morta na sua própria biblioteca. Antes de interrogados os suspeitos,
e segundo o testemunho unânime dos empregados, o que se sabe, é que estalou
uma violenta discussão entre os presentes: a D.ª Ricardina, a D.ª Severina, o
Sr. Clementino e o Sr. Sepúlveda, além da D.ª Etelvina, a anfitriã. Também
era consensual que cada um dos convidados tinha alguma coisa contra a dona da
casa, mas a confusão era completa − falava-se, à boca pequena, em
problemas de dívidas, vingança, ciúmes e até chantagem, mas ninguém sabia exactamente qual fora o móbil do crime, nem se conseguira
relacionar os supostos motivos, com cada um dos suspeitos. Até à chegada do
médico legista a causa de morte também era alvo de especulação −
enquanto uns garantiam que a D.ª Etelvina teria sido envenenada, outros
falavam numa pancada ou num tiro na cabeça. Afinal, primeiro de acordo com o
legista e, posteriormente com o relatório da autópsia médico-legal, a morte
fora consequência de uma lesão cardíaca extensa, causada por um objecto cortante. O
que se sabe sobre o crime? Muito? Muito pouco? O suficiente para descobrir o
culpado! Todos
eram suspeitos, até prova em contrário e a investigação apurou que,
curiosamente, cada um deles teria um motivo diferente e também um método de
eleição próprio, para cometer o crime: veneno, punhal, objecto
pesado e arma de fogo. Sem
qualquer dúvida, e com absoluta certeza, eis os cinco factos apurados: 1.
Se o envenenamento fosse a causa de morte, o seu autor teria sido uma das
mulheres. 2.
O motivo da D.ª Ricardina estaria relacionado com dívidas de dinheiros. 3.
A estatueta seria o objecto escolhido por alguém
motivado pelo ciúme. 4.
O Sr. Clementino utilizaria o seu revólver, mas nunca teria a vingança por
motivo. 5.
A D.ª Severina era impulsiva e teria usado uma pesada estatueta. Caro
leitor, É
tudo. Não é um verdadeiro enigma policiário ─ os meus amigos nem são
sequer policiaristas e temos de dar um desconto. O
leitor, se quiser, tem aqui material para ocupar o tempo livre. Eu
descobri as respostas às três questões. E mais, também relacionei cada um dos
suspeitos com cada “arma do crime” e “motivo”. Consegue fazer o mesmo? Posso
garantir que o meu almoço grátis “está no papo”. E os meus amigos que se
preparem para uma sessão de “7 Problemas Escolhidos”, escritos pelo Sete de
Espadas. Quem sabe não saem de lá verdadeiros policiaristas,
com o vício da decifração e a criar desafios de fazer suar as estopinhas?… |
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© DANIEL FALCÃO |
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