Autor Data 12 de Abril de 1986 Secção Sábado Policiário [20] Competição 1º
Torneio de Problemística (Sábado Policiário) 4º Problema Publicação Diário Popular |
TOUROS EM VILA FRANCA Rui Kid (Dedico este problema policiário a toda a «Aficion» e em especial à de Vila Franca de Xira.) Naquela
manhã de Julho, desci as escadas da estação da CP de Vila Franca e
deparou-se-me com uma cidade em festa, toda engalanada, muitas bandeiras,
velejadores no Tejo, as varandas inundadas de gente de onde se desprendiam
mantas multicoloridas, música, as ruas cobertas de areia e com os acessos
tapados, com «tronqueiras», «burladeros», em frente
das portas, montras protegidas com tábuas, muita gente nas ruas, desfile de
campinos, bandas de música, foguetes, enfim, era a festa do «colete
encarnado». Esperava-me o meu amigo Vítor. Foi na sua companhia que assisti a
uma «Espera» de touros e à famosa tourada das duas da manhã! A
«Espera» não começou muito bem, pois o público derrubou uma das cercas do
recinto onde os touros, depois de saírem da camioneta, são «encabrestados».
Podia ter acontecido uma tragédia, mas, felizmente, os touros não fugiram e,
depois, graças à acção de alguns corajosos a cerca
foi reerguida. Foi
uma tarde agradável, passada a «brincar» com os touros (em pontas…) nas ruas,
incitando-os e fugindo logo de seguida para a protecção
das «tronqueiras», dos «burladeros», ou qualquer
porta entreaberta… Algum aficionado mais afoito, tentando mostrar
habilidades, era, por vezes, presenteado com cornadas que felizmente, para
eles, nem «puntazos» chegavam a ser, somente alguns
«varetazos». Cerca
das oito horas os campinos, com os seus barretes verdes e coletes encarnados,
as suas varas e peles de carneiro nas selas, recolheram os touros para a
praça. Terminava a «Espera». Às
duas horas da madrugada, depois de saborear uns suculentos petiscos e uns
copos de carrascão, cheguei à praça de touros onde assisti a uma esplêndida
tourada. Actuaram três cavaleiros,
Chico Lebre, Zé Navalhas e Paulo Baptista, que montaram seis magníficos
cavalos, lidando cinco touros, um dos quais a «Duo». O «Inteligente» teve de
dar um «aviso» ao primeiro cavaleiro, mas, depois, não houve mais problemas,
a não ser os «Espontâneos» que às vezes tentavam mostrar as suas habilidades antes
dos forcados entraram em acção. Acabada
a tourada, a festa continuou nas tertúlias tauromáquicas. Numa delas, já de
madrugada, a tragédia aconteceu: numa sala foi encontrado um influente
«Apoderado» esfaqueado… Um médico que se encontrava presente na tertúlia
confirmou a morte e, num primeiro exame, concluiu que ela ocorrera quando se
realizava a tourada. Foi
o meu amigo Vítor que telefonou ao comissário Pereira, que passada uma hora,
com o sol a nascer, chegou depois de algumas investigações, reuniu um grupo
de três suspeitos, pessoas que ninguém conhecia na tertúlia. Decerto que
algum deles, não tendo nada a ver com os touros, viera propositadamente a
Vila Franca cometer o crime. Sobre o que tinham feito durante a tourada,
afirmaram o seguinte: JOÃO
FERREIRA: «Assisti à tourada calmamente num camarote. Atentamente observei o
rigor das «cortesias», tendo avançado pela arena em primeiro lugar os
campinos, depois o pessoal da praça, os forcados e, por fim os cavaleiros.
Adorei ver os «cites» ruidosos, os «doblazos», os
«naturais», as «chiquelinas», etc… Contudo, detesto
ver espetar as farpas.» MANUEL
DAS MOITAS: «Hem? Um crime? Não sei de nada. Estive na tourada com o
«Apoderado» do Zé Navalhas e depois fui cavaquear com os forcados, que são da
minha terra Gostei das actuações do Zé e do Paulo,
mas detestei o «galear» do Chico Lebre. Foi uma noite rija, embora todos os
touros «gazapeassem» muito.» ARTUR
TAMANCOS: «Olhe, passei a tourada entre barreiras com a «quadrilha» do Chico,
onde tenho um grande amigo de infância. Os cavaleiros estiveram várias vezes
em perigo, mas aqueles estupendos «quites por verónicas» iam-nos safando. Não
há dúvida de que o Chico foi o que fez melhores e mais vistosos recortes.» O
comissário deu-me os depoimentos para eu ler e sorriu-me. Acabei de os ler e
retribui-lhe o sorriso. Para ele, as quintas-feiras nocturnas
no Campo Pequeno tinham-lhe sido úteis. Para mim, as de Vila Franca… PERGUNTO:
1
– Quem matou o «Apoderado»? 2
– Justifique detalhadamente os pormenores que o levaram a essa conclusão. |
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© DANIEL FALCÃO |
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