Autor Data 20 de Novembro de 1948 Secção Publicação O Século Ilustrado – nº 568 |
DEGRAUS MORTAIS Roussado Pinto O
jornalista Lee Still examinava com atenção um pequeno mapa pendurado na
parede do gabinete do inspector Lorrimer. Estava sozinho e fumava com prazer
um belo charuto havano. Entretanto,
a porta abriu-se e no limiar surgiu a figura agradável do inspector, ao mesmo
tempo que o telefone começava a retinir. O
polícia avançou e sem dizer palavra segurou no auscultador, levando-o ao
ouvido.
Do
outro lado do fio, respondeu uma voz agitada e num tom tão alto que Still,
afastado uns bons dois metros, conseguiu ouvir a conversa. Dizia: -
Fala Mrs Edmund Spide, da rua X… Há quatro dias que não consigo ver a minha
vizinha do rés-do-chão, o que me admira. Tem todos os jornais e garrafas de
leite à porta e não atende o telefone, tampouco a campainha. Se tivesse ido
viajar, ter-me-ia avisado. O senhor quer vir ver o que se passa?
Agradecia-lhe muito, inspector. *
* * Por
mais esforços que empregasse, o inspector não conseguia forçar a porta da
casa – única dependência que faltava revistar para encontrar a estranha
desaparecida. -
Não há outro remédio. – Exclamou o jornalista. – Vamos arromba-la. E
se bem o discutiram, melhor o fizeram. O inspector recuou uns quatro passos,
e atirou-se com toda a força do seu corpo de encontro à porta. Um choque,
estilhaços de madeira e o polícia seria projectado de encontro ao solo,
através de uns vinte degraus se a mão de ferro de Lee Still não o tem
agarrado. Motivo: o primeiro e segundo degraus estavam soltos e partidos. Depois
de ter respirado com bastante alívio, o inspector avançou, com cuidado,
seguido pelo amigo. Desceram
a escada e verificaram a existência dum cadáver que rapidamente examinaram. -
Pescoço quebrado e crânio fracturado… - monologou Lorrimer. E depois de uns
segundos de silêncio, concluiu: - Não há que ver; acidente com todos os
«quês»! -
Discordamos mais uma vez, inspector. – acentuou o jornalista, com calma. –
Não há que ver; assassínio com todos os «quês»! PERGUNTA: Como
chegou Lee Still a esta conclusão? |
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© DANIEL FALCÃO |
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