Autor Data 12 de Maio de 2002 Secção Policiário [565] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2001/2002 Prova nº 9 Publicação Público |
Solução de: MUITAS BALAS PARA UM HOMEM SÓ Paulo Os problemas com estas
características são sempre de eliminatórias, demonstrando as
impossibilidades, para depois se apresentarem as provas e indícios
incriminadores. A primeira constatação é a
de que não houve suicídio. Ninguém se suicida com oito tiros, de luvas
calçadas, e depois tira as luvas, atira-as pela janela e fecha a janela… Toda a descrição do caso
aponta para que o criminoso esteja dentro de casa. Não há pegadas para além
das descritas, não há possibilidade de alguém exterior e desconhecido
aparecer na cena no crime. Dos suspeitos, temos: 1 – Jorge é ilibado por
Natálio, como facilmente se verifica. Cruza-se com ele bem longe do local e
aproximadamente pela mesma hora. Não tem hipótese. 2 – Natálio é ilibado por
Jorge e Cremilde. Mesmo que tivesse uma chave da casa, não teria tempo para
cometer o crime e voltar a sair. A hora que Cremilde indica para o crime não
lhe permitiria todo a movimentação. Mesmo que tivesse tempo para sair, a
colocação das luvas onde elas apareceram obrigá-lo-ia a sujar os sapatos e
não poderia aparecer com eles a brilhar. 3 – Cremilde teve
oportunidade para matar, mas não tinha mobilidade nem tempo para fazer
desaparecer as luvas. Firmino apareceu imediatamente e encontrou-a na
cozinha. 4 – Firmino poderia ter
cometido o crime. As pegadas exteriores são suas, as luvas também. Mas, de
fora o crime não podia ter ocorrido porque ele não chega à janela. Teria de
se encavalitar em algum objecto que não estava à
vista. Teria de disparar oito tiros e acertar naquelas condições, depois
atirar com a arma para dentro do escritório com notável pontaria e fechar a
janela por fora, o que é impossível. A janela não poderia ser fechada por ele
quando entrou no escritório depois, porque nesse caso teria de deixar pegadas
de lama até à janela, o que se não verifica. Ou então disparar através dos
vidros, o que não aconteceu porque não há vidros partidos. Nenhuma destas
hipóteses é possível. A outra, mais viável, é a de ter cometido o crime lá
dentro e saltado pela janela, fazendo depois o trajecto
que conhecemos. Só que, neste caso, a janela teria de ficar aberta quando ele
saiu. No entanto a janela está fechada. Por outra janela não podia ter
saltado porque não há pegadas. Se entrasse pela porta da frente seria visto
por Natálio. Pela detrás, por Cremilde. Não podia ter cometido o crime. 5 – Por exclusão, resta
Bernardo, que teve oportunidade e motivo: sabia onde estava a arma e que esta
estava carregada; tinha mobilidade por toda a casa; soube por qualquer
processo que iria ser deserdado e expulso da casa, surgindo desta forma o
motivo para o crime; apanhou as luvas ao jardineiro, porque sabia que uma mão
que dispara uma arma pode ser detectada; matou o
irmão e subiu rapidamente ao quarto, onde já tinha preparado previamente o
cenário e a história que devia contar; foi ao quarto do sobrinho,
premeditadamente afastado da casa, e da janela lançou as luvas para o jardim,
motivo pelo qual ficaram afastadas uma da outra e não juntas, como
normalmente acontece quando alguém as tira; depois aguardou uns instantes e
desceu. A acrescer ao facto de ele
ser o único a ter possibilidade de cometer o crime, há uma mentira que
comete. Segundo Narciso Morais, as traseiras dão para norte. Quando ele sai
pela porta da frente, virou à esquerda; portanto, ficou de leste. Deste lado
fica a janela do quarto de Bernardo, o que impossibilita que às três da tarde
por lá entrasse o sol, como ele afirma. Tanto quis enfeitar a história com
pormenores verdadeiros que acabou por arranjar uma impossibilidade física.
Daquele lado, só há sol da parte da manhã. Para terminar só mais uns
pormenores, o facto de a porta da frente estar só no trinco não incrimina
ninguém. Normalmente, mesmo nestas condições, não é possível abrir portas
exteriores do lado de fora, sem chave. |
© DANIEL FALCÃO |
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