Autor

Pal

 

Data

14 de Junho de 1986

 

Secção

Sábado Policiário [29]

 

Publicação

Diário Popular

 

 

TRÊS RAPAZES… E MAIS UM!

Pal

 

A professora entrou na sala de aula, largou os seus apetrechos escolares e saiu para tomar um café nos dez minutos que faltavam antes que a sineta tocasse. Passados que foram esses minutos, a sineta tocou com um som estridente e a garotada correu para a sala e para os seus lugares, excepto três dos mais traquinas do grupo, que vendo a ausência da professora, aproveitaram para fazer tropelias…

Mexeram na secretária, em tudo o que estava em cima desta, no quadro preto, pularam e saltaram como verdadeiros «azougues».

A porta abriu-se; tudo serenou e os três malandretes correram a sentar-se nas suas carteiras, as três primeiras da sala. A professora entrou e, como é claro, tinha de ralhar:

– Meninos! Que barafunda é esta?

Vocês três, e são sempre os mesmos que me dão maiores trabalhos!!!

Estou a ver que me mexeram na secretária e no quadro e, para já, preciso de saber quem me levou um livro de estudo, uma caneta de feltro e os paus de giz que estavam na calha do quadro… Devo dizer-lhes que ao primeiro relance eu já descobri o que cada um levou, mas quero que sejam vocês a confessar.

O Miguel era um rapazinho alto, para os seus onze anos, um pouco magro, e tinha o péssimo defeito de andar sempre com as mãos sujas de tinta.

O Bruno andava feliz da vida porque a tia lhe dera um quadro como o da escola, mas mais pequeno, para fazer as contas em casa; era um pouco desleixado, porque perdia tudo. Nesse dia apareceu na escola de fato novo, calças e casaco de fazenda azul-escura, que a mãe lhe comprara na véspera.

Já o José era mais ailado. Tinha cuidado com as suas coisas e andava a fazer uma biblioteca com todos os livros que lhe ofereciam. Gostava muito de ler e até arranjara um ex-libris.

Todos eles negaram ter tirado qualquer coisa e o Miguel disse mesmo que tinha começado a pintar um emblema do Benfica, mas depois verificou que se esquecera das canetas de feltro em casa. Não queria giz para nada, senão na escola, e livros até gostava pouco deles.

O Bruno disse que não queria os livros da professora porque tinha os dele, não gostava de giz porque estava sempre a partir-se e tinha uma caixa de canetas de feltro de todas as cores que há no Mundo.

Finalmente, o José disse que a professora bem sabia que ele não podia mexer em giz porque o pó lhe fazia asma; não precisava de ter tirado o livro de Ciências à professora porque tinha os livros todos e quanto a canetas de feltro… nunca as usava.

– Então muito bem… – disse a professora. – Como ninguém, confessa e como eu já vos disse que sei quem tirou e o que tirou, vou fazer deste caso um problema de observação e vou pedir ao Tomás, que é um rapaz esperto e observador, que nos diga o que cada um tirou, e como, ao primeiro relance, eu o descobri.

 E o Tomás disse!

E você? É capaz de imitar o Tomás?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO