Autores

Natércia Leite

 

Data

5 de Janeiro de 1996

 

Secção

O Detective - Zona A-Team [256]

 

Competição

Torneio dos Convívios

Problema nº 9 | Convívio do Sobral de Monte Agraço

 

Publicação

Jornal de Almada

 

 

Solução de:

VAMOS PONDERAR O CASO…

Natércia Leite

 

De imediato se constata que os dossiers escamoteados, no número de quatro, de um ficheiro organizado por ordem alfabética, quanto a este item, careciam de coerência.

DE facto, noutras condições que não aquelas sobre as quais temos de ponderar, o ladrão ansioso de ocultar algo a todo o custo, limitar-se-ia a retirar do ficheiro «o seu» dossier.

Não é isso que acontece. Faltam quatro na realidade. Para confundir. Onde se poderia esconder um cadáver? Entre vários… Uma carta? Entre muitas outras… Um dossier comprometedor? Entre outros…

No cenário de papéis espalhados, caídos; a desordem é encenação.

Quanto às letras (dos apelidos) pelas quais se constitui um ficheiro, distantes no alfabeto, temos um C; um F; um Se um V.

ATENÇÃO PORÉM: Poder-se-iam considerar dois V. VALENTIM E VALE. No entanto, ao longo do texto fala-se sempre em SAMEIRO DO VALE – desses tipos de apelidos em que os próprios portadores do nome fazem questão. Trata-se apenas de um pormenor, que esperando a autora tenha sido apontado pelo solucionista arguto, ele o justifique consoante a «sua lógica» pois não vem alterar a solução correcta do caso.

Era fácil ao intruso/a depois do crime e de ter em sua posse os quatro dossiers, apanhar o elevador de acesso às escadas ou mesmo tê-las descido, procurando sair sem ser visto pela porteira. Como os vizinhos não deram por movimentos ou barulhos fora do normal ter-se-á de referir o tal tão estafado pormenor do cão não se ter manifestado a ponto de “DAR NOS OUVIDOS”. ERA a DONA e mais alguém, provavelmente conhecido… As manifestações de regozijo que os cães igualmente demonstram pelo ladrar são de pronto interrompidos por ordens ou carícias dos donos…

MAS tanto o Castro, como Sameiro do Vale ou o Valentim, à partida não teriam motivo para esconder, principalmente (questão fulcral) do outro cônjuge, nomes ou pormenores dos seus “casos”.

Tanto o Castro que andava envolvido com uma mulher mais nova e sua afilhada, como o Sameiro do Vale, cuja mulher reatara amores com alguém que já tivera importância na sua vida; como o Valentim – casal deteriorado por ligações e comportamentos “abertos”.

Mas tal não era o que se passava com o casal FARIA! Constava de um “deslize”, chegado ao conhecimento do marido por telefonema anónimo e voz feminina. Tentaria o marido esclarecer tal telefonema? Ou de muito mau gosto ou partindo de uma mulher despeitada. Perante negativas da mulher conceder-lhe-ia o benefício da dúvida. No entanto há um ditado que diz que não há fumo sem fogo.

Daí e de tudo quanto está no texto temos o Faria como cliente do Dr. Ramires, discreto, conhecido e amigo num processo de averiguações. Tratava de saber se havia “OUTRO HOMEM” “QUEM”' e a “ESPÉCIE” DE DESLIZE.

Tornava-se urgente, a todo o custo fazer sumir o dossier, simulando um desaparecimento conotado com roubo. Depois poder-se-ia dizer que em determinadas situações debaixo da pressão e ansiedade os intervenientes actuam mais por instinto que por raciocínio e por vezes com uma boa dose de incoerência e até ingenuidade.

A história em si é simples:

Receosa da pressão do marido, (a mulher do Faria) sobre o advogado, – que como amigo até à data não dera ou prestara contas sobre as investigações decorrentes – tentou a melhor forma de conseguir a todo o custo obter o dossier.

Viu-se porém “forçada”, em desespero de causa a usar de violência, não sendo pois considerada premeditação, perante as obstruções, escrúpulos ou impossibilidades da mulher do advogado no sentido de pactuar com quanto pretendia. Salvar o seu casamento e fazer desaparecer pormenores ou nomes que a comprometeriam.

A pesada jarra estava ali à mão… E era de metal, indiana…

Como determinante há um crime para se poder chegar ao roubo e não ao contrário.

Na prosaica realidade do nosso sistema jurídico duas componentes a considerar: CRIME e ROUBO. Este com violação de confidencialidade e hipotético arrombamento do ficheiro, que estaria logicamente chaveado, embora esse pormenor não venha mencionado no texto, não constando como componente de relevância.

Quanto ao decorrer dos acontecimentos, nada mais será necessário dizer. Os solucionistas se encarregarão de tratar disso, segundo a sua linha dedutiva e a sua lógica.

Neste despretensioso problema bastante elementar como teria afirmado o “nosso” SHERLOCK HOLMES qualquer caminho percorrido conduzirá ao mesmo sítio.

© DANIEL FALCÃO