Autor Data Abril de 1980 Secção Enigma Policiário [49] Competição 1º
Grande Torneio de Fórmula Um Policiária e Torneio de Homenagem a Jartur Problema nº 1 | Grande Prémio de Vila do Conde Publicação Passatempo [71] |
Solução de: MAIS UMA MORTE… Jersil 1 – Não é suicídio a) O morto diz na
sua «folha»: – «Encostarei uma arma a uma das têmporas». Sendo assim o
orifício deveria encontrar-se numa das têmporas, e não «no meio da testa». b) «No rosto seco de
carnes, desenhava-se uma expressão de espanto, através dos olhos esbugalhados
e da boca ligeiramente entreaberta». Se, de facto, o morto se tivesse
suicidado, nunca se lhe desenharia no rosto uma expressão de espanto. Espanto
indica SURPRESA. Portanto,
houve alguém, ou alguma coisa que o surpreendeu. Esse «alguém» foi sua
mulher, Tónia, e essa «alguma coisa», o tiro que o
vitimou. c) Se tivesse sido
suicídio, se ele tivesse encostado a arma a uma das têmporas, como afirmou,
teria, o orifício de ficar queimado chamuscado de pólvora e com grânulos de
pólvora nos bordos. Mas tal não aconteceu, portanto não houve suicídio. 2 – Quem foi o assassino?
a) «Ela começou por
me mostrar indiferença, depois desprezo, depois ódio!» «Para
ela não passo de um pobre louco e de um empecilho. Disse-mo muitas vezes!» O
ódio é factor que pode arrastar uma pessoa para o
crime. Além disso, ele constituía para ela um empecilho. Tudo isto são
«razões» para o crime. b) «Fria, calculista
e óptima atiradora», como era, as suas mãos não
tremeram, nem a sua pontaria errou um milímetro do alvo, que fosse. E,
acertou-lhe «bem no meio da testa», com um tiro à «queima-roupa». c) Ela era loira e a
cor negra da arma contrastava com o tom de um longo cabelo que lhe estava junto.
O cabelo é dela, como não podia deixar de ser, já que era loura. d) «Aqui,
encontrava-se um pequenino lenço, quase totalmente embebido em sangue». Tratava-se
de um lenço de características femininas. Era o lenço de Tónia.
O lenço que, com certeza, ela utilizara para limpar as suas impressões
digitais, e que inadvertidamente, na precipitação do crime ali deixara. Há,
portanto, duas provas de uma presença feminina no local do crime e um forte
ódio como móbil do crime. São provas que a incriminam. Ela é a criminosa,
como vem a confessar. 3 – Como terá acontecido o caso: Ela
estava sob a ombreira da porta. A arma na mão direita. Dos seus olhos
brotavam raios de profundo ódio. Ele
encontrava-se bem no meio do escritório. De súbito, levantou os olhos,
abriu-os desmesuradamente, entreabriu a boca ligeiramente num ar de espanto,
e… tombou. O tiro havia partido, e ele acabara de «entregar a alma ao
Criador». Aproximou-se
do corpo. Tirou um lenço e limpou a arma cuidadosamente. As suas impressões
digitais haviam desaparecido; só as do morto ficavam. Ajoelhou-se, meteu a
arma na mão direita do morto; ao mesmo tempo, e inadvertidamente, pousou o
lenço no soalho, entre a cabeça e o braço do morto (local onde se formaria a
grande poça de sangue, que corria abundantemente). Entretanto, um cabelo caiu
junto à arma (talvez por acaso, talvez porque ela, uma vez mais inadvertidamente,
tivesse passado as mãos pelos cabelos). Não
havia tempo a perder. Tinha que se despachar. Os vizinhos que, com certeza,
ouviram o disparo, não tardariam a chegar. Ergueu-se. Olhou em volta e viu a
«folha» em cima da escrivaninha. Dirigiu-se para lá e começou a lê-la.
Enquanto lia, um sorriso malévolo bailava-lhe nos lábios. (Heim! O cretino pensava suicidar-se! Se eu soubesse,
pouparia esta trabalheira toda e, talvez, preocupações futuras. Mas,
felizmente, ele fez o obséquio de me ilibar. Que gentileza! Foi, talvez, a
única coisa de jeito que ele fez em toda a sua porca vida. Ha! Ha! Ha!).
Batiam
à porta. Tinha que se apressar. Eram os vizinhos. Mais uma rápida olhadela em
redor. «Tudo perfeito». Mas era só a aparência; a realidade era bem
diferente. (Ela, nessa altura, já não viu o lenço. Como a olhadela foi rápida
e um cabelo é uma coisa insignificante, este passou-lhe despercebido). Como
a polícia resolveu o problema, ela, depois de prestar as primeiras
declarações, sofreu a devida sentença, ditada pelo juíz. |
© DANIEL FALCÃO |
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