| Autor Data 8 de Dezembro de 1977 Secção Mistério... Policiário [143] Competição Torneio
  “Tertúlia Policiária do Palladium" Problema nº 4 Publicação Mundo de Aventuras [219] | Solução de: DIÁRIO DA MANHÃ… CRÓNICA Investigador Bazooka Diz o autor que para uma solução
  certa, e com direito a todas as honras, há que focar os seguintes pontos:  A)
  Para a localização das personagens dentro do compartimento, interpretar os
  dados do texto, confirmados por: «…Se o jornalista
  diz que via as árvores surgirem-lhe como por encanto, e desaparecerem ao
  longe, é porque ia de costas para a máquina, ou seja, de costas para o sentido
  da marcha». Este ponto é fundamental. É como se fosse a chamada «prova real
  de uma operação».  B)
  Para a questão do crime em si, há que frizar que,
  no momento crucial: a) O narrador não está lá, logo eliminado… b) O professor
  é um leptossómico por natureza, logo, não tem forças para tal esforço, por
  anémico… c) E independentemente disso, no momento do choque, ele que vai
  sentado, também de costas para a máquina, ao lado do jornalista, recebe, por
  inércia de movimento, o corpo da enfermeira, sentada no banco à sua frente,
  ao lado do «sobrinho da vítima» (e «criminoso em potência»…),
  pelo que, «os dois estão ocupados» e não teriam tempo para cometer o crime…
  d) independentemente do anterior, a enfermeira, sexo fraco e posição no compartimento
  algo difícil,
  também
  não teria forças para tal esforço… e) Além disso, ao «médico» e «enfermeira», não convinha a «morte do doente»
  pois com ela cessariam as suas fontes de rendimento… f) Resta-nos o sobrinho,
  o único com: oportunidade, força necessária, boa localização e interesse no
  desaparecimento da senhora… g) Aliado a tudo isto, mente, quando afirma que a
  mala lhe caiu para cima, vindo da frente (lembram-se que ela ia por cima do
  lugar onde estava sentado o narrador), o que está de novo a contrariar a
  inércia, também de movimento, já referida para o corpo sentado da enfermeira… Solução
  apresentada por O Gráfico Dia
  12 de Setembro de 1977… Iam começar as minhas férias… Corno sempre, o local
  apropriado para gozá-las, seria a minha terra natal, o Burgau!...  Para
  lá me dirigia, utilizando como meio de transporte, o comboio.  Sentei-me
  num banco junto à janela, onde mais tarde, a meu lado se veio sentar um
  sujeito – depois de me pedir licença –, cuja esposa e filha se acomodaram no
  banco situado à minha frente, ficando a senhora
  junto da janela… Entretanto, já eu colocara a minha mala de viagem por cima
  de mim sobre o friso, junto com o saco das sanduíches; o «séquito» dos livros
  policiários e o «Mundo de Aventuras», ficaram a meu
  lado, entre as minhas pernas e a parte lateral do comboio… Pude assistir
  plenamente, à acção da senhora a colocar igualmente
  o seu «farnel» em cima do friso do lado delas. Minutos de silêncio…  O
  comboio começava a sua marcha, até às «banda» dos «Algarbes»…  Decorridos
  alguns minutos, e quando me preparava para ler um problema policiado,
  apercebi-me então da sua beleza!!!... Sim, a pequena
  que se encontrava em frente do pai, tinha esplêndidos olhos verdes que muito
  bem combinavam com o seu cabelo louro! Uns seios algo expandidos num corpo, robusto!! Por momentos, fiquei atónito perante o interesse
  que dedicava a um «Mundo de Aventuras»!!!... Como
  tinha sido ingénuo até ao ponto de não ter reparado na sua beleza, nem ao
  facto de ela também estar lendo um problema policiário!... Pensei para
  comigo: «Será que ela pertence à nossa Grande Família do Policiário?». A
  dúvida mantinha-se!...  Estava
  prestes a perguntar-lhe, quando a mãe se me dirigiu:  O
  senhor vai para o Algarve?  –
  Sim – respondi-lhe, quase engasgado.  –
  Bom, então vamos ser companheiros por muito tempo! – acrescentou
  o pai.  –
  Eu vou para Burgau. E os senhores?  –
  Nós, para Salema!  Sorri,
  ao ouvir aquele nome… Outra alegria apareceu dentro de mim…  Depois
  do comboio, ainda podíamos seguir juntos de autocarro até ao nosso destino… É
  que Salema fica perto de Burgau!!!  De
  novo se fez silêncio… e eu sem saber como perguntar-lhe!... Porém, a mãe,
  como adivinhando o meu pensamento, exclamou:  –
  Esta é a nossa filha!  –
  Muito prazer – respondi. – Chamo-me Luís Manuel! – disse
  depois apressadamente.  –
  Eu sou Carmen!...  Senti
  no corpo, um imenso calor!... Como a sua voz era meiga!...  Ela
  continuou com o seu «Mundo de Aventuras», que pude verificar ser igual ao
  meu! Tratava-se do problema «Diário da Manhã… Crónica», da autoria do meu
  amigo Investigador Bazooka! Ela talvez não o
  conhecesse!... Facto curioso, é que as personagens intervenientes no caso, viajavam de comboio, tal como nós!...  …Já
  decorridos algumas horas de viagem, os dois, já mais à vontade, estávamos
  juntos, no mesmo banco, a tentar solucionar o caso!... O pai passara para junto
  da esposa! Ah!... Ela apenas comprara o «Mundo de Aventuras», por acaso, pois
  pretendia «um livrinho» para ler na viagem!... Despertara-lhe, porém, a
  atenção «o conto», e por isso, estava a tentar resolvê-lo!  Começámos
  por desconfiar do sobrinho da vítima, pois ele era o único que dizia qualquer
  coisa no texto! Agora, só nos faltava descobrir se, no que ele afirmava,
  havia algo de ilógico!!! Parei
  um pouco e olhei a paisagem através da janela; começava por ver as árvores em
  minúsculos pontos ao longe e via-as crescerem até desaparecerem
  repentinamente como por encanto… De súbito, uma travagem brusca do comboio
  fez desordem na carruagem onde íamos… Eu consegui aguentar-me, mas a bela Carmen foi parar nos braços do pai!... As minhas
  sanduíches espalharam-se pelo chão, algumas das quais ainda atingiram a mãe
  da pequena!... Olhei para cima e por pouco que a minha mala não caíra!...
  Quanto aos sacos deles, todos permaneceram nos seus lugares!...  Ainda
  não estava tudo recomposto, quando gritámos simultaneamente:  –
  «Descobri!!!»  Rimos
  às gargalhadas! Agora, tínhamos motivos poro incriminarmos o sobrinho! Sim,
  foi ele quem assassinou a tia, arremessando-a pela janela!!!...
   A
  prova desta afirmação, foi o ele ter dito que levara com a mala do «autor» na
  cabeça, vindo projectada do friso em frente!!!... Depois
  de um melhor estudo, deduzimos o seguinte:  1
  – O sobrinho pôde, facilmente, içar a tia para a plataforma do comboio…  2
  – Isto, porque era do tipo atlético!  1
  + 2 – Portanto, uma vez que o conseguira, facilmente teria erguido, só, a tia
  atirando-a pela janela, para o que aproveitara o escuro que se fizera
  derivado ao túnel! Nessa altura também o autor havia saído para ir ao WC.  3
  – Ele mente nas suas afirmações, pois nunca poderia levar com a mala que se
  encontrava no friso no sua frente!!!  E
  isto porquê?  4
  – O autor diz que: «…olhava pela ¡anela e via as
  árvores aparecerem-me como por encanto nos olhos e via-as afastarem-se até
  serem minúsculos pontos ao longe…». Aqui, compreende-se que ele viajava de
  costas, para a máquina!  5
  – O sobrinho ia à sua frente, o professor ao seu lado e na frente deste a enfermeira!!!  4
  + 5 – Ora se a enfermeira quando da travagem, foi parar aos braços do
  professor, tomando assim a direcção que o comboio
  seguia, como poderia então a mala do autor ir bater na cabeça do sobrinho?
  Isto é praticamente impossível, uma vez que qualquer objecto,
  ou qualquer corpo (quando sucede uma travagem), toma sempre a direcção da marcha do veículo quando é projectado!!! A
  prova estava também nas minhas sanduíches que foram parar ao chão e na pobre Carmen que foi parar ao colo do pai!!!...
   Foi
  assim que descobrimos o criminoso!  …Já
  estávamos quase a chegar quando o pai dela pegou na revista para ler o
  problema! Disse-me ela:  –
  O meu pai há uns anos atrás chegou a responder o alguns problemas deste
  género!  –
  Ah, sim!... – exclamei.  –
  E quase sempre acertava! – acrescentou.  Estávamos
  ainda nesta conversa quando o pai nos perguntou:  –
  Ouçam lá, vocês sabem o que é um leptossómico?  Olhamos
  um para o outro!... Eu calei-me. Francamente não sabia e senti-me
  envergonhado! Mas ela depressa se apressou, como a defender-se… –
  Sei pai! É uma pessoa que tem astenia, que demonstra fraqueza, portanto, que
  tem falta de forças!  –
  Então? – disse o pai. –
  Então o quê? – ripostou ela.  De
  repente, surgiu um raio de luz no meu espírito e comprendi
  que me pertencia ser eu agora a defendê-la!  –
  Já descobri! – gritei. – É que, sendo o professor um
  leptossómico, podemos de uma outra maneira, chegar à
  solução do caso!...  Aprontei-me
  a explicar só a ela, uma vez que o pai já sabia e a mãe manteve-se na
  expectativa… Repara
  nisto:  A)
  Se o professor era asténico, nunca poderia içar a velha senhora pela janela…
  Logo, professor ilibado!  B)
  A enfermeira sendo do sexo feminino, demonstra «à priori»
  menos força e, mesmo sendo ela a cometer o crime, por certo que o sobrinho da
  vítima (ao seu lado), o iria descobrir! Logo, enfermeira ilibada!  C)
  Sabemos que o autor do conto não se encontrava na carruagem em virtude de se
  deslocar à caso de banho… Logo, autor ilibado!  D)
  Resta-nos só o sobrinho como possível criminoso! Logo, é ele o culpado!  –
  É isso mesmo, rapaz! – disse, satisfeito, o pai dela… Estava
  a chegar à minha terra e também eu me sentia
  satisfeito! Não só por ir estar com os meus pais, como por ter conhecido mais
  uma futura amiga… Tanto para mim, como para a nossa Grande Família da Problemística Policiária!!!... | 
| © DANIEL FALCÃO | |
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