Autor Data 20 de Outubro de 1949 Secção Publicação Mundo de Aventuras |
"SÓ POR MILAGRE, O DESVENTURADO MOÇO..." Inspector Lister Só
por milagre, o desventurado moço poderia escapar com vida, de tão horrível
incidente! Note-se: dizemos «incidente» e não «acidente», porque damos ao
Inspector Lister a prioridade de se pronunciar, quanto à exacta classificação
do acontecimento: crime ou desastre. O Inspector interroga, precisamente,
neste momento, o companheiro de trabalho do falecido, na vasta quinta em que
ambos prestavam os seus serviços: –
«Afirma, então, que o seu companheiro, para apanhar a tesoira-podadora, que
deixou cair no poço, e, por acaso, se prendeu nuns arbustos, existentes nas
paredes deste, a uns dois metros de profundidade, galgou o bordo do poço e
nele se sentou, inclinando-se para a frente e estendendo o braço direito. É
isto? –
«Exactamente, senhor Inspector! Ao vê-lo tão perigosamente inclinado,
recomendei-lhe que tivesse prudência, porque o poço, muito fundo e sem água,
por causa da prolongada seca, lhe daria a morte certa, se tivesse a
fatalidade de se desequilibrar… –
«E que lhe respondeu ele? –
«Nada. Limitou-se a sorrir e inclinou-se, ainda mais! Voltei a cara, para
prosseguir o meu trabalho, mas não decorrera ainda um minuto, quando ouvi um
grito angustioso! Olhei, de novo, na direcção do poço; e, apenas, vi as
pernas do meu pobre companheiro, que tão cara pagou a sua imprudência! –
«Diz muito bem! A sua imprudência, considerando verdadeiro amigo o
companheiro que lhe daria a morte… –
«Que quere dizer? –
«Que tenho na minha frente o assassino e vou algemá-lo, imediatamente! Venham
de lá esses pulsos! Em
que ponto do depoimento se traiu o companheiro do falecido? O Inspector põe,
assim, à prova a perspicácia dos nossos leitores… |
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© DANIEL FALCÃO |
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