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Autor Data 22 de Abril de 2018 Secção Policiário [1394] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2018 Prova nº 2 – Parte I Publicação Público |
Solução de: SMALUCO E A MORTE DE JORGE MARAVILHAS Inspector Boavida Natália Vaz tem toda a
razão. O caso da morte de Jorge Maravilhas foi muito mal tratado por Smaluco, que terá contribuído com a sua desastrada
intervenção para que os seus amigos e ex-colegas da Polícia Judiciária
tivessem apressadamente concluído pela tese de suicídio o que indiciava
tratar-se claramente de um homicídio. O velho detetive começou
por contaminar o local do crime com atitudes pouco refletidas, sendo a mais
grave a que se prende com o gravador de cassetes de Jorge. A sua intuição levou-o a
carregar na tecla “play” do gravador onde o antigo radialista registava todos
os instantâneos do dia-a-dia que fossem suscetíveis de ser do interesse do
seu vasto auditório e ouviu, desde o início, a mensagem de despedida de
Jorge, que culminou com aquilo que pareceu ser o barulho do tiro que o terá
matado. Só que este não podia ter-se suicidado e de seguida rebobinar a
cassete, colocando a mensagem no início. Acresce que o gravador se apresentava
imaculado, o que não é compatível com o abundante sangue que escorrera da
ferida até ao tampo da secretária e que teria naturalmente encharcado a mão
direita de Jorge, após desferido o tiro fatal. A inexistência de sangue no
gravador de cassetes revela que não foi a vítima a gravar aquela mensagem de
despedida. É certo que a voz de Jorge Maravilhas é inconfundível, mas isso
não quer dizer que seja inimitável, sobretudo se a imitação for executada por
um… imitador profissional como o Necas Baptista, “um dos mais completos e
originais artistas de variedades de todo o mundo” (a imitação de vozes seria
a sua principal especialidade, o que lhe granjeou “grande projeção
internacional”…). Será de admitir que a arte
de imitação de Necas se estenda à caligrafia, sendo possível, por isso, que o
envelope a si endereçado contenha uma mensagem escrita que, para além de
abordar pormenores mais íntimos da vida de ambos, faça também uma chamada de
atenção para a mensagem deixada no gravador, a fim de reforçar os indícios de
suicídio. Não foi, porém, necessária esta chamada de atenção para que Smaluco tomasse a iniciativa de o fazer antes de chamar a
Polícia Judiciária, contando depois sem grande rigor aos seus ex-colegas as
circunstâncias que rodearam a sua audição. Ainda a propósito da arte
de imitação de Necas, parece crível que ele seja exímio em “beatbox”, pelo que o som do tiro que sucede à declaração
gravada poderá ter sido feito com a própria boca do assassino, não tendo
havido, assim, dois tiros naquele segundo andar na madrugada em que aconteceu
o homicídio de Jorge Maravilhas (só havia uma cápsula de bala no escritório!)
Ou, então, se houve segundo tiro, uma das cápsulas levou sumiço). Mas isso
será esclarecido numa análise à arma do crime e após saber-se o número de
tiros ouvidos pelos restantes moradores daquele prédio chique da Lisboa
Moderna, onde Necas e Jorge foram muito felizes antes da queda do índice Dow Jones, do vício do jogo se ter apoderado dos dois e
de um jovem cantor ter aparecido na vida de Jorge Maravilhas, o que deixou o
seu companheiro de vida louco de ciúmes… |
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© DANIEL FALCÃO |
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