Autor Data 18 de Março de 1988 Secção O Detective [44] Publicação Jornal de Almada |
Solução de: NATAL! Big Ben Começaremos
a solução com as palavras que terminavam o problema. Recordemo-las: «Querem
os leitores-solucionistas d’ «O Detective» dar uma
ajuda ao pai Dinis? Julgo que só eles o poderão fazer…». Reparem bem: «Julgo
que só eles o poderão fazer…», isto é, só eles (leitores-solucionistas)
poderão dar uma ajuda ao pai Dinis (na descoberta de quem seria o causador da
jarra ter caído). Mas
porquê só os leitores-solucionistas? A resposta é óbvia: só eles tem
conhecimento de algo que os restantes mortais (inclusive o pai Dinis)
desconhecem. Ou sejam as deambulações do vulto que, embora involuntariamente,
derrubou a jarra. E é precisamente nessas deambulações que está a «chave» (ou
melhor, as «chaves») do «caso»… (Abrimos
um parêntesis para aduzir que a família Dinis é composta por quatro pessoas:
pai, mãe e dois filhos: a Maria José (Zezinha) e o Fernando Manuel
(Nandinho). Aliás, é fácil chegar a esta conclusão se atentarmos
convenientemente no texto: «…Os gritos de contentamento da Zezinha… entrou no
quarto dos pais… seguiu-se-lhe o irmão… e toda a família Dinis se uniu…». Como
não há mais ninguém, só os dois irmãos poderão ser apontados como possíveis
derrubadores da jarra, porquanto, «pai Dinis acordou com o barulho…»,
estando, pois, a dormir quando aquela caiu, e mãe Dinis idem-idem,
aspas-aspas – «mirou a esposa, que continuava a dormir, sem dar por nada». Posto
isto, fechemos o parêntesis…). As
deambulações do vulto foram feitas sobre chão não alcatifado («…a jarra a desfazer-se em estilhas no pavimento de
tacos…). Logo, o frio que normalmente se depara nas noites da época
natalícia, forçosamente, atingiria a personagem que tão ansiosamente desejava
saber se os pais lhe davam a prenda desejada… …Ora,
sabe-se que a Zezinha tinha as faces rosadas, sinal de que estava quentinha;
em contrapartida, o irmão estava frio. Indício assaz revelador, não é verdade?!... …Além
disso, o Nandinho foi encontrado «…quase totalmente destapado…», o que não
sendo de admirar («Como já esperava, encontrou-o
enrodilhado na roupa…»), poderá, no entanto, de igual modo, deixar antever a
rapidez com que se deitou… Outrossim, será aspecto
de considerar as prendas natalícias. A boneca e o respectivo
carrinho (não obstante aquela ser grande e, obviamente, o último ter tamanho
condizente) não possibilitaria a rápida visão que estará implícita no texto («O vulto parou à entrada do compartimento, perscrutando o
interior… As lâmpadas cintilaram…»). Já no que concerne à bicicleta – por se
tratar de algo mais volumoso, com… «visual específico» –, essa, seria detectável assim que se verificasse um «flash»… …Porém,
a chamada «prova-provada» está no princípio do texto, precisamente na
primeira palavra: «silencioso e rapidamente…». Pois se o vulto conseguia
avançar em silêncio, apesar da pressa com que o fazia, é evidente que não
poderia ser a Zezinha, porquanto ela trazia vestida uma «…camisinha de noite
em tafetá…», tecido que produz um «fru-fru»
contínuo quando roça uma parte na outra. A rapidez, logicamente acentuaria o
ruído… …Já
o mesmo não aconteceria com o Nandinho, que esse – sim! – poderia
andar silenciosamente, dado apenas vestir roupas interiores («…o costume que
ele apanhara de não querer dormir com o pijama vestido…»). Suponho,
pois, não restarem dúvidas de ter sido o Nandinho quem derrubou a jarra, ao
saltar de contentamento, por ter verificado que, junto ao pinheiro, se
encontrava a tão desejada bicicleta!... (Nota
final: a hipótese da Zezinha ter despido a camisa de noite para proceder às
deambulações – não provocando, portanto, o tal «fru-fru»
e podendo, consequentemente, andar em silêncio –, além de ilógica, não é
viável, dado que pai Dinis «de imediato, saiu da cama e foi investigar…» e
«dirigiu-se, primeiramente, ao quarto da Zezinha…», o que não lhe daria tempo
a vesti-la e muito menos a apresentar o belo aspecto
(«faces rosadas») que tinha). |
© DANIEL FALCÃO |
|
|
|