Autor Data 1 de Maio de 2025 Competição Torneio do Cinquentenário de
“Mistério… Policiário” Problema nº 5 Publicação Blogue Local do Crime |
A TABERNA DOS TRÊS EFES Bernie Leceiro No
início de uma noite quente de julho 2022, Alves da Selva, retirado da
atividade policial, reuniu em tertúlia na qualidade de anfitrião, num
conhecido restaurante de Pedras Rubras, um grupo de antigos camaradas dos
núcleos de investigação por onde passou. Queridos
camaradas e amigos – dirigiu-se aos seus antigos companheiros – o menu para o
nosso jantar é inspirado numa pequena lenda que encontrei ao ler um antigo
manuscrito de um padre local sobre acontecimentos de Moreira da Maia do
século XIX e que vos passo a ler: «A entrada do exército liberal em Pedras
Rubras no dia 8 de julho de 1832 à frente do qual vinha D. Pedro IV com o seu
estado maior que todos pernoitaram n’este logar para no dia seguinte entrarem no Porto. (…) Foi por essa occasião,
segundo se conta, que D. Pedro entrando numa locanda perguntando o que havia
para comer, ao que lhe respondeu o bodegueiro: Peixe de FFF! “Então o que é
peixe de três efes?” É faneca, fresca, frita. O Sr. D. Pedro comeu e depois
disse ao locandeiro: “Não tenho aqui dinheiro para lhe pagar, então fica
sendo o peixe dos 4 efes – faneca, fresca, frita, fiada “(si
non e vero e bem trovato)”» O
dia de hoje marca 190 anos que o exército liberal acampou neste largo e onde
D. Pedro jantou numa taberna mais ou menos neste local onde nos encontramos.
Quanto ao prato principal acho que já todos sabem o que vamos jantar. Eu
mesmo as apanhei hoje de madrugada a bordo do barco do meu amigo mestre
Caravela em frente à praia da Memória, antiga praia dos ladrões onde ocorreu
o desembarque. A acompanhar as benditas fanecas teremos um belo arroz de
grelos que a D. Aninhas nos está a preparar na cozinha com todo o amor e
carinho. Mas como diz um amigo meu – não há jantares grátis – deixo-vos para
análise um curioso texto do mesmo livro de onde vos li a lenda de há pouco e
não resisto a partilhar convosco para avaliar o estado das células cinzentas
de alguns de vocês, tal como eu, já retirados destas andanças criminais.
Aguardo os vossos comentários até ao final do jantar. O autor do relatório
mais completo é meu convidado para petiscar, comigo e com o mestre Caravela,
uns belos percebes fresquinhos, amanhã na Praia de Angeiras
logo depois da baixa-mar na tasquinha do Quim Fateixa. «Na noite de 27 para 28 de junho de 1882,
lançou-se a um poço da sua casa onde morreu afogada Maria Perpétua, casada
com José Narcizo da Costa Braga, fundidor de sinos,
e moradores n’este logar, junto da estação do caminho de ferro, ella com
negócio na casa d’ António Vieira e elle com a sua
fundição junto a mesma casa. Tinham ido ambos ao Porto no dia 27 e alli ficou para o outro dia o marido, e ella voltando para casa, acolhendo-se na forma do
costume, mas muito triste, alta noite perguntou a uma mulher que ali passava
na mesma casa se ella tinha ouvido bater a porta da
loja respondendo-lhe que não, nada mais se soube até que pela manhã vendo-se
que não aparecia e encontrando-se o candeeiro na borda do poço logo se
suspeitou que ella alli
se tivesse lançado, apesar do poço ser tapado e mesmo a tampa por onde se
tirava a agua estava cahida, fechada, mas supõem-se
que ella quando se lançou ao poço levava atraz de si a tampa. Tinha deixado na casa tudo em boa
ordem inclusivamente apartadas todas as roupass em
que queria ser amortalhada não lhe esquecendo a minima
cousa: fechou todas as portas e metteo as chaves
n’algibeira onde lhe foram encontradas. Foi attribuido
este horroroso atentado a dividas que tinha e também
à pouca saúde da alma e do corpo.» Terá
sido suicídio como conclui o padre ou existem razões para suspeitas de
homicídio? Como poderia ser confirmado? Qual teria sido a conclusão da
autópsia no Instituto de Medicina Legal? Um
bom jantar a todos! O
desafio ao leitor é exatamente o mesmo que Alves da Selva lança aos seus
companheiros. Relativamente às percebes e fanecas
frescas fritas, independentemente da qualidade do relatório produzido, estão
todos convidados a visitar a Praia de Angeiras e
provar estas iguarias do nosso mar. (Nota:
Textos originais transcritos do livro Moreira da Maia no século XIX: Segundo
o Manuscrito do Padre Joaquim Antunes de Azevedo / José Augusto Maia Marques;
coord. Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da
Maia; il. António Matos PUBLICAÇÃO: Maia, Câmara
Municipal da Maia, 1998) |
© DANIEL FALCÃO |
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