Autor Data 16 de Janeiro
de 1987 Secção O Detective [16] Competição 1ª Supertaça Policiária -
Cidade de Almada Problema nº 6 Publicação Jornal de Almada |
Solução de: CRIME NO MUSEU A Lampadinha 1)
– O Inspector Pardal acusou Eufrazina,
como tendo sido a assassina. Porque cometeu várias irregularidades nas suas declarações
que justificaremos seguidamente, assim como exemplificaremos
pormenorizadamente como tudo se passou… 2)
– Choveu. A entrada do Museu estava impecavelmente limpa pela mulher a dias que depois de praticar o assassínio, limpou
tudo, até à entrada principal, com receio de deixar algum vestígio do crime.
A entrada estava protegida pelo telhado – daí o mármore estar multo limpo – as
goteiras não lhe pingavam para cima. As
únicas pegadas que ficaram assentes no chão do átrio foram as do Inspector Pardal e do Tenente Pascoal, pois todos os
outros entravam pela porta dos fundos. Antes dos polícias entrarem, o mármore
encontrava-se limpo, portanto, sem quaisquer marcas. A senhora Eufrazina diz ter limpo todo o rés-do-chão; portanto, a entrada
também visto que, como choveu naquela noite, o solo, apesar de protegido pelo
telhado, estaria molhado ou pingado, pois a chuva podia estar batida a vento.
Depois de limpo o piso inferior, a senhora Eufrazina
limpa o 1º andar. Em seguida vai vestir-se. Quando vem a descer, vê um vulto
sair pela porta da frente – se alguém tivesse entrado ou saído pela frente do
Museu, existiriam pegadas do lama (tinha chovido nessa noite) tanto no átrio
como no chão do Museu, dentro deste, pois Eufrazina
já tinha limpo o rés-do-chão. 3)
– Eufrazina gostava de música clássica mas, mente
ao dizer que estivera a ouvir rádio enquanto se vestia, pois, não poderia ter
ouvido «La Traviatta» de Puccini porque esta
composição pertence a Giuseppe Verdi. 4)
– Junto do morto estava uma pesada estatueta, intacta e limpei a fim de querer
fazer crer que havia sido a arma do crime. Se Simões tivesse sido atacado com
aquele objecto, teria um hematoma no ombro (na
cabeça é que poderia matar) mas, ele apresenta uma brecha bem funda e o osso
do ombro esquerdo quebrado. Um golpe destes só poderia ter sido executado com
um objecto pesado e corto-contundente. A estatueta
estava intacta – ao agredir a vítima, o assassino deixá-la-ia cair e esta
quebrava-se, ou então algumas arestas que tivesse partiam-se. A estatueta
estava limpa – a vítima sangrou bastante. Neste caso a estatueta estaria suja
de sangue porque o criminoso não iria limpá-la. Tudo isto se o assassino tivesse
sido a tal pessoa que Eufrazina viu fugir. 5)
– O chão onde o corpo se encontrava estava limpo – não foi assassinado
naquele local, senão havia uma poça de sangue em redor do morto, devido à
profundidade do golpe. 6)
– A farda do morto estava ensopada de sangue, com algum já seco. Então,
Simões já fora morto horas atrás e não momentos antes corno Eufrazina queria fazer acreditar. 8,30 horas
– Eufrazina foi vestir-se (o Director
diz que ela telefonou eram 8,35). Ora, ela não teria tempo de se vestir
(estava a ouvir a música de que gostava, iria demorar-se até terminar), descer
os degraus do 1º andar, ver o vulto, reparar no Simões que estava na
outra sala, na 1ª a partir da porta de entrada – era na 3ª que se encontravam
as escadas para o 1º andar – nem sequer poderia ter visto o assassino, pela
mesma razão já apontada, e voltar a subir ao piso superior para telefonar (o
telefone encontrava-se neste andar, ao lado do vestiário) tudo isto em cinco
minutos. 7)
– Simões apresentava umas manchas arroxeadas nas partes baixas do corpo –
Livores de Hipóstase – que surgem quando a morte ocorreu entre 4 a 8 horas
atrás e quando o cadáver é deslocado da sua posição inicial após a morte. Ora
isto prova que a morte ocorreu noutro lugar e que o corpo esteve previamente
numa posição de sentado, uma vez que os livores tendem a aparecer nas partes
mais baixas dos corpos. 8)
– Eufrazina é mulher forte, mulheraça, como Pardal
pensa enquanto decorre o depoimento daquela. Portanto, era-lhe fácil pegar em
Simões depois de praticado o crime, mesmo com o corpo frio, visto este ser
franzino. 9)
– O ténue pó que rodeava o lugar vazio da estatueta que estava caída junto do
cadáver, denota que Eufrazina, com a pressa, para
limpar tudo, para não deixar vestígios do crime praticado por ela, limpou
muito bem as três salas do rés-do-chão antes de levar o corpo para a sala de
entrada, esquecendo-se daquele lugar. O cadáver não foi logo transportado
após o crime, senão deixaria sangue no local onde foi encontrado. Eufrazina depois do colocar o corpo onde pretendia, tomou
a limpar tudo em redor, eliminando quaisquer vestígios de transporte que
poderiam ter surgido, foi buscar a estatueta à outra sala mas esqueceu-se de
limpar o pó das peças. 10)
– No 1º andar situava-se a sala das armas. Local do crime. O machado (um
deles) foi o objecto fatal. Com o profundo golpe
que Simões apresentava, nota-se que a arma mortal era pesada e que com o
mínimo esforço poderia ser praticado o homicídio. Era só necessário balanço
feito pelo assassino e que tivesse apanhado a vítima de costas, o que foi o
caso. 11)
– Por tudo isto, Eufrazina não podia ter entrado às
6,30 horas, mas sim muito mais cedo e depois das 00,30 h. (hora a que o Director saiu) para praticar o crime, já premeditado,
para vingar a irmã!!! Como tinha as chaves do
alarme, não lhe era difícil entrar no Museu, até porque conhecia Simões e o
lugar de tudo. ADENDAS:
a)
– A confirmar que todos os funcionários entravam pela porta das traseiras
(até mesmo o Director) está o facto de que quando o
outro guarda entrou no jardim, deixou marcas de lama que se juntaram às
outras que lá estavam (Eufrazina, Director e Simões). b)
– Se Eufrazina não tivesse tocado em nada, depois
de ter descoberto o corpo, como afirma, teriam que existir resíduos de sangue
em redor do morto. c)
– Eufrazina ao dizer que a irmã sofreu por causa de
Simões faz com que as suspeitas de crime recaiam sobre ela. d)
– …Diz que não foi por isso que o matou, emendando que não foi ela que o
matou… Sem dúvida, um deslize comprometedor. e)
– Diz gostar de música clássica, sendo lógico roubar o busto de Beethoven. f)
– É mais que evidente que o seu choramingar final designa-se para emocionar
os investigadores a fim de terem pena dela!... g)
– O guarda está livre de suspeita, assim como o Director
que só do subir ao 1º andar da delegacia vinha arquejando. Portanto, não
podia ter pegado no Simões. O Director é um homem
baixo e balofo, e como se nota, os esforços causam-lhe canseira. Se tivesse
praticado o crime e limpo tudo estaria ofegante. h)
– Nada como uma mulher experiente em limpezas e conhecedora do sítio das
coisas, para saber fazer o trabalho e desembaraçar-se da roupa que sujara ao
assassinar Simões, quando foi para o vestiário. Além de tudo o que foi dito,
ela estava sozinha com Simões. i)
– Móbil do crime: – Vingança!!! |
© DANIEL FALCÃO |
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