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TORNEIO DO
CINQUENTENÁRIO “MISTÉRIO…
POLICIÁRIO” – MA/MP (1975-2025) PROBLEMA Nº 10 NA TASCA DO
ZEFERINO Autor: Vic Key Às sextas-feiras,
na Tasca do Zeferino, depois da hora de encerramento, havia sempre tertúlia.
Jogo da sueca, petiscos, bom vinho e conversa animada reuniam os quatro
amigos de longa data: Alberto, proprietário da única farmácia da vila, leitor
apaixonado de clássicos e diários desportivos; João, tranquilo agricultor de
pomares e vinhas, fornecedor do melhor vinho da casa; Jorge, carteiro,
versejador e fadista amador; e o dono do estabelecimento, que tinha também um
dos mais impressionantes bigodes da Freguesia e uma notável colecção de carros antigos. Como de costume,
desde que voltara para Vilar da Pedreira, Frederico, mais conhecido por
"Traquitanas", um filho da terra que andara a correr mundo,
deixou-se ficar numa mesa, a arrastar a última cerveja e a desfiar as suas
fantasias. Já em pequeno era assim, e talvez viesse daí a sua alcunha. O
mundo real aborrecia-o um tanto, pelo que se refugiava na sua actividade preferida de químico auto-didacta
e inventor independente. Escusado será dizer que poucos o levavam a sério,
sobretudo desde que em garoto o seu "aditivo especial para motores a
dois tempos" atirou muitas Famel e V5 para a
oficina e os seus donos para a troça pública. Pelas duas da
manhã, o "Traquitanas" ainda monologava o seu tópico preferido: o
"motor a água"! Os da tertúlia sorriam daqueles devaneios. Menos o
farmacêutico, que, de ar pensativo, concentrado no jogo da sueca,
sentenciava: "Tanto fala no motor a água, que um dia ainda é raptado a
mando de alguma petrolífera!". Passada uma hora,
rumaram a casa, bem bebidos e desopilados, uns mais direitos que outros e o
"Traquitanas" muito às curvas, de modo que o grupo ainda o
acompanhou com o olhar, não fosse ele cair nalguma ribeira das que atravessam
a pitoresca povoação. O sábado amanheceu
lindo, primaveril e ensolarado. Só uma pessoa em toda a vila não estava com
disposição para o desfrutar. Pelas onze horas, o Raul, amigo verdadeiro e
benfeitor do autoproclamado inventor, foi convidá-lo para almoçar. Fartou-se
de bater à porta, sem resposta. Acabou por decidir-se a entrar, não viu o seu
protegido e ficou preocupado. E ainda mais quando reparou numa garrafa de
cerveja quase vazia, com meia dúzia de pontas de cigarro no fundo, sobre a
mesa de trabalho de Frederico, mais conhecido como "Traquitanas",
onde se amontoavam os esquemas enigmáticos das suas máquinas e tralhas
diversas. Havia duas cadeiras, uma de cada lado da mesa. A garrafa de
cerveja, cinzeiro improvisado, de estranhar em casa de um não fumador,
inquietou Raul. A sua primeira ideia foi chamar ajuda, mas ao
fim e ao cabo, um homem adulto e celibatário é livre de voltar ou não
para casa sempre que bem lhe apeteça. No entanto, alguma
coisa lhe dizia que o seu amigo não se achava fora de livre vontade.
Considerou os indícios da teoria que começava a germinar no seu cérebro. De
tudo o que estava sobre a mesa do génio incompreendido, chamaram-lhe a
atenção os cigarros, que eram daqueles franceses, com o desenho de uma
bailarina de flamenco na embalagem azul. A caneta esferográfica, com a
inscrição "Ricordo di
Venezia" e o desenho de uma gôndola, abonava a favor da sua fama de
viajado. Havia ainda um baralho de cartas de jogar de temática de Animais
Africanos, a pisar as cartas da zebra, do flamingo e do rinoceronte, viradas
para cima, e um frasco ainda por encetar, com um rótulo que dizia “Xarope de
Própolis”. A cama da singela habitação de solteiro estava por fazer. Dos projectos e esquemas nada entendeu. Talvez fossem apenas
elucubrações de uma mente fantasiosa. Quando chegou a
casa, toda a família lhe estranhou o semblante carregado e a ausência do
esperado conviva, que era sempre garantia de entretenimento para as crianças,
com histórias mirabolantes e gracejos sempre prontos. Toda a tarde Raul
se atormentou: "E eu que gosto tanto de resolver problemas policiários...
em miúdo até participava nos Torneios do “Mundo de Aventuras”, e agora não
consigo desvendar este!". Tentou mostrar-se calmo, não quis preocupar a
Esposa, mas os pensamentos borbulhavam. Lembrou-se de
levar o xarope ao Alberto da farmácia, que confirmou que o vendera na véspera
para tratar a tosse rebelde do "Traquitanas". Ficou muito abalado
com a notícia do desaparecimento, e, enquanto Raul se afastava, ainda veio à
porta da farmácia gritar, levantando os braços: "Eu avisei que isto havia
de acontecer!". Raul passou pela
tasca onde o amigo costumava parar, e todos confirmaram ainda não o terem
visto. A preocupação crescia. Mas o nosso homem não desistiu. Já era quase de
noite quando, depois de muito remoer, deu uma palmada na testa e correu a
chamar a Polícia: "Tenho a certeza de que sei onde está o
Frederico!" - dizia ele em voz alta para si mesmo, apressando o passo. E sabia. Foram
encontrar o desafortunado inventor numa certa cave, abandonada, em Vilar da
Pedreira, prisioneiro de alguém que queria por força arrancar-lhe o segredo
da sua suposta invenção. Estava esfomeado e desorientado, mas resistiu
galhardamente. Diz quem passou
recentemente na vila que o famoso motor funciona e está em testes. Se tudo
correr bem, Portugal terá alcançado a sua independência energética e
Frederico Costa, o "Traquitanas", terá uma estátua na praça
principal. E o Raul bem merece figurar a seu lado… Não contamos aqui
como é que o Raul descortinou quem sequestrou o seu amigo, nem revelamos a
identidade do criminoso, porque o detective amador
de Vilar da Pedreira nos pediu que usássemos a sua aventura para testar o
raciocínio dos nossos leitores e recomendar-lhes que se exercitem nos
mistérios… policiários! APRESENTE A SUA “PROPOSTA DE SOLUÇÃO”! As propostas de solução devem ser enviadas até ao dia 31 de Outubro para reporter.de.ocasiao@gmail.com ou lumaferoma1958@sapo.pt. OU:
– Via
Messenger, Facebook, mensageiro instantâneo e
aplicativo de Luís Rodrigues; – Por mão
própria, ditectamente e pessoalmente a “O Gráfico”,
em qualquer lugar; – Via CTT
para Luís Manuel Felizardo Rodrigues, Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2º
Esq., Feijó 2810–032 Almada. |
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DANIEL FALCÃO |
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